Tempestade Colorida
Como a tendência do dopamine dressing arrebatou o mundo com muita cor e alegria
Depois da tempestade, vem a bonança, como diz o ditado popular. E é verdade! Após um 2020 de muitas incertezas com uma pandemia sem precedentes na história que assolou o mundo inteiro, deixando em seu rastro milhões de vítimas, sem previsão de cura, vacina ou respiro, chegou 2021. Nossas esperanças de um ano melhor, de vida renovada frente às recentes descobertas feitas durante nossos lockdowns, são refletidas em nossas roupas. Se durante a pandemia nós apostamos em técnicas manuais para expandirmos a criatividade, como crochê, tricô e tie-dye, além de modelagens largas, utilitárias e confortáveis para ficarmos em casa no home office, no pós-pandemia vamos explorar algo diferente. Muito diferente! Estamos falando do dopamine dressing, a grande tendência que vem dominando as passarelas e ruas mundo afora desde então, apostando em cores muito vibrantes, mistura de estampas e uma experimentação ímpar.
A tendência pega emprestado seu nome do hormônio dopamina, responsável em nos causar sensação de desejo, recompensa e bem-estar, também muito discutido no campo da neurociência atualmente. É ele quem nos faz ter vontade de comer algo gostoso, sentir o gosto da comida e ter o sentimento de recompensa. Com roupas não é muito diferente, já que há décadas estuda-se a psicologia por trás do efeito positivo que as cores e a moda podem gerar em nós, ainda que muito subjetivo. Há quem sinta felicidade usando laranja e vermelho, e há quem se sinta tão bem quanto de preto. Os estudos seguem preliminares e são inconclusivos, deixando o espaço livre para experimentações. O que importa é a manutenção de nosso bem-estar, tão fugazmente roubado por uma extensa pandemia, algo que se reflete também no mercado da beleza.
Nossas presenças online também têm grande papel nisso. Em um período em que todos estavam trancados dentro de casa, nossos celulares viraram nossos melhores amigos, nossa conexão com o mundo exterior. Que melhor forma de capturarmos a atenção de nossos seguidores no feed do Instagram ou na For You do TikTok se não com um visual chamativo, com cores chocantes? Com todos marcando uma presença online forte, o desejo pela nossa individualidade surge com maior peso. Na prática, os tricôs permaneceram, mas ganharam mais misturas de cor e padronagens, os vestidos ganharam muitas estampas e cores vivas, os sapatos fogem do lugar comum com formas inovadoras, até mesmo os acessórios são mais exacerbados, com grandes braceletes de plástico e colares maximalistas. As bolsas têm formatos arrojados, com estampas, misturas de tecidos e até resgates dos anos 2000, como as Louis Vuitton por Takashi Murakami multicoloridas do início da década.
A tendência ganha força na metade de 2021, quando marcas de luxo como Jacquemus, Versace e Blumarine apresentam desfiles repletos de cores vibrantes, misturas de padronagens e de técnicas, e se consolida com a coleção PinkPP de Pierpaolo Piccioli para a Valentino, com looks elegantes em rosa-shocking. O retorno da Copenhagen Fashion Week no mesmo período também é um marco, com os convidados dos desfiles aparecendo em looks cada vez mais vibrantes, transformando as ruas da cidade em uma verdadeira passarela e esta semana de moda em uma pequena notável fora do circuito mundial que compreende Nova York, Londres, Milão e Paris. O dopamine dressing quebra todas as fronteiras quando surgem vertentes, como o Barbiecore com o lançamento do filme Barbie, de Greta Gerwig, cuja campanha de marketing foi realizada com tamanha destreza que conseguiu atingir até mesmo a grande massa, gerando uma suposta falta de pigmento rosa no mundo. A felicidade parece não ter um fim tão cedo, com desdobramentos da tendência ainda por vir, mas já temos o surgimento de um contraponto, o quiet luxury, endossado por Succession, série de maior sucesso da HBO nos últimos anos, que propõe cores mais sóbrias, linhas clássicas e o retorno ao minimalismo. A tempestade veio e passou, a bonança já chegou e dias melhores também. Pra sempre!