O novo modernismo
Em novo desfile a Misci segue desbravando o que o Brasil tem de melhor: o brasileiro.
É conferido a Sócrates o aforismo “Nosce te ipsum”, ou “conhece-te a ti mesmo”, em português, mas, na verdade, é uma inscrição encontrada na entrada do Templo de Delfos, na Grécia. Centenas de anos se passaram e esse segue sendo o nosso maior desafio enquanto humanidade. Na arte isso não é diferente. Como um país colonizado fomos ensinados a adorar o que vem de fora, a famosa “síndrome de vira-lata”, e, nesse processo acabamos não valorizando o que temos internamente.
Com o maior couturier que Paris já conheceu não foi diferente: Cristóbal Balenciaga deixou sua Espanha natal para se aventurar pela capital da moda, e foi lá que cresceu e fez seu legado. Com algumas primeiras coleções mornas, foi só quando decidiu olhar para a arte espanhola e sua história que começou a chamar a atenção de jornalistas do mundo todo, com vestidos de alta costura inspirados em Velásquez e Goya.
Desde sua fundação é o que Airon Martin, criador e estilista da Misci, marca brasileira mais importante hoje, fez: voltar o olhar para dentro. Desde seu nome (Misci, para miscigenação), até em seu design, que referencia linhas sinuosas modernistas de outrora, e passando pelo fazer artesanal que busca resgatar tradições brasileiras, Martin é o estilista mais celebrado do momento, e não à toa.
Em seu último desfile “Tenda Tripa", Airon leva a moda para onde nunca devia ter saído, o Pavilhão da Bienal, de Oscar Niemeyer, e apresenta uma coleção que reforça os códigos da marca, mas também gera novos, com parcerias inteligentes criando moda com papel, como Jum Nakao há duas décadas, apresentando couro sustentável feito através de plantas e uma união de povos. De celebridades classe A como Ivete Sangalo, que fechou o desfile, a influenciadores grandes e pequenos, jornalistas de hoje e de ontem, compradores e estudantes de moda. Somente Airon Martin consegue convergir tantas tribos através de um único propósito: prestigiar a moda brasileira, com matéria-prima nacional e fazer artesanal.
Moda e filosofia não só podem como devem andar de mãos dadas. Afinal, é assim que Airon Martin e a Misci brilham: com muita valorização do que temos internamente, nos ensinando a fazer o mesmo, e assim, a nós mesmos.