O futuro do pretérito
O passado e o presente da moda brasileira entram em conflito geracional
Há quem diga que a moda brasileira respira por aparelhos, mas ela dá sinais vitais e demonstra estar viva e respirando bem, obrigado. Às vésperas do último São Paulo Fashion Week, o maior evento de moda do hemisfério sul, uma reportagem trazendo denúncias ao evento foram publicadas na revista Piauí. A razão? Marcas participantes do SPFW acusam seus idealizadores de focar mais no lucro do que no bem-estar das marcas e de seus estilistas. Fazer uma semana de moda não deve ser tarefa fácil, e a nossa teve sua 57ª edição há algumas semanas, feito louvável em tempos que até mesmo tradicionais semanas de moda, como Nova York e Londres, perdem força.
O argumento do outro lado é de que o Brasil e sua moda já viveu momentos prósperos e que estamos muito distantes dos tempos áureos dela. Esses tempos em questão eram justamente meados de 2000, onde começamos a exportar muitas modelos e estilistas. Foi a época que Alexandre Herchcovitch começou a chamar atenção internacional, a Vogue Brasil deixou sua publisher brasileira e foi fazer parte da joint venture Edições Globo Condé Nast, grifes italianas e francesas começaram a desembarcar por aqui e tudo parecia que estava indo de vento em popa.
Contudo, temos um problema: o ditado popular “quem vive de passado é museu” pode ser aplicado aqui. Devemos celebrar o passado, mas não viver de memórias dele. O grande desafio do nosso momento atual é justamente conseguirmos viver no presente. A moda brasileira já foi próspera? Sim, e muito. Já tivemos jornalistas de moda internacionais vindo cobrir a nossa semana de moda. Ela chegou a ser considerada a 5ª maior do mundo, mas viver deste passado próspero não nos leva a um futuro próspero.
Ao invés de apontarmos dedos e acharmos culpados, devemos encontrar estratégias para driblar este momento de crise comunicativa. A moda brasileira segue a todo vapor, o jornalismo de moda brasileiro segue forte, falta apenas cativarmos o olhar do público. É preciso olhar para dentro, de si, do país, e não para fora. Nos fortalecermos para quando o próximo grande buzz da moda brasileira acontecer estarmos preparados para termos mais do que boas roupas para mostrar.