O fim da Cultura
O iminente fim de uma das maiores livrarias do país significa muito mais do que o fim de um negócio lucrativo
A Livraria Cultura deu seu último suspiro nos últimos dias, fechou as portas após 77 anos na capital paulista. Sinônimo de cultura e entretenimento de São Paulo desde sua fundação por Eva Herz em 1947 na Rua Augusta. Mas este não é um texto técnico sobre a história e o emblema que a Livraria Cultura representou por tantos anos no coração de São Paulo e para Brasil, e sim um relato com pesar.
Eu cresci na Livraria Cultura. Quando ainda criança meus irmãos se mudaram para São Paulo na região da Augusta, e, sempre apaixonado por livrarias e livros desde sempre, a Cultura era para mim um lugar mágico. A magia já estava presente mesmo quando era um lugar apinhado de livros e de pessoas no Conjunto Nacional onde hoje se encontra o Carrefour Express. Tão apinhado que minha família combinava qual era o melhor horário para irmos para lá. Era um programa família; minha mãe procurava por livros de autodesenvolvimento e religiões, meu irmão por livros de fotografia e filosofia, minha irmã por livros de arte e design, e eu pelos livros e revistas importadas. Passávamos horas lá. Eu passava dias!
Nas minhas férias eu vinha para São Paulo passar dias com minha irmã. Eu estava de férias, ela não, logo, aos poucos, fui convencendo-a de deixar-me ir na Cultura passar a tarde. E a Cultura estava em constante expansão, até que chegou onde parou: um lugar realmente mágico, enorme e com uma infinidade de livros. E assim era, eu passava manhãs e tardes inteiras dentro da livraria, lendo livros, folheando livros, buscando livros, descobrindo coisas escondidas em páginas em branco codificadas. Muitas vezes sequer os comprava, apenas quando eram muito especiais. Afinal, o livro estaria sempre ali e a livraria também estaria sempre ali, para sempre, certo?
Incerto. O triste fim da Cultura, que vem ocorrendo há anos, assim como o de outras grandes livrarias Brasil afora, é também a representação do fim da cultura. Nunca consumimos tanto conteúdo quanto hoje, mas nunca lemos tão pouco também. Nosso tempo em telas minimiza nosso tempo em folhas. O conteúdo está cada vez mais raso, e os livros parecem estar cada vez mais distantes das pessoas. O futuro? Incerto. Mas chegamos ao fim de uma era.
tive grande resistência em ler romances na tela, preferia os impressos.
mas me rendi, não dispenso os "objetos transcendentes" em papel, porém atualmente leio mais nas telas.
sim, fiquei triste com a queda dos índices de leitura que a sexta edição do "Retratos da Leitura" evidenciou e essa é uma das razões que me fez criar uma newsletter sobre leitura, com foco em literatura.
parabéns Almeida, gostei muito de encontrar sua newsletter!