Crítica SPFW: Patrícia Viera - Reacendendo o Fogo!
Com clima disco, recortes feitos a laser e muito brilho, a estilista carioca nos leva aos anos 70 com mais tecnologia do que nunca!
O desfile de abertura da edição 56 do São Paulo Fashion Week foi o de Patrícia Viera, designer carioca que até a última coleção comandava sua marca homônima com mãos de ferro. Esta é a primeira apresentação da nova diretora criativa da marca, Andrea Viera Baptista, filha de Patrícia que assume depois de a mãe sofrer um infarto este ano, e passando o bastão e assim colocando menos as mãos na massa.
E mão na massa é uma excelente forma de definir os códigos desta marca carioca de leather goods, que acredita no fazer lento, no artesanato, e que desde 2018 se tornou zero waste através do reuso de sobras de tecidos, sem mencionar o árduo trabalho de upcycling. Ufa! Além disso, a marca oferece roupas sob medida, sob demanda, atemporais e para a vida toda, como gosta de dizer a estilista.
Uma voz feminina nos avisa que temos uma festa para ir esta noite, e o groove setentista “Same Man”, de DJ Delicious e Till West, começa. O tema disco já fora flertado há duas temporadas, mas agora ele surge com força total, com direito até mesmo a disco ball na passarela. A atriz Monica Martelli abre o desfile, fazendo questão de dançar com o beat enquanto desfila. O que vemos são vestidos de festa com um patchwork de aplicações quadradas e angulares, surgindo em vestidos, calças, saias lápis e saias com modelagem aberta. Poderíamos pensar que as aplicações confeririam uma rigidez aos tecidos, mas muito pelo contrário, há um balançar neles, que é ressaltado pelo jogo de cintura das modelos. No arremate vemos a parceria de Viera com a marca de sapatos Tift, que ficou a cargo de trazer sandálias altas, porém que deixam os pés bastante livres, com exceção de apenas duas botas para equilibrar o comprimento das minissaias.
Patrícia é mestra em transformar pequenos retalhos de tecidos variados em mosaicos elaborados cortados a laser, ora adornando vestidos e conjuntinhos, ora calças de cortes retos, além de revelar certa transparência por entre os desenhos meticulosos. Os desenhos emulam uma série de elementos da natureza, como escamas de peixe, folhas e flores. Plissados em minissaias e cinturas marcadas também são destaques desta nova coleção. Nem mesmo o terno é boring aqui, ele surge dourado, assim como os metalizados dourados e prateados do restante dos looks, e até mesmo em tons terrosos e pretos, mas não sem menos brilho. A passarela de Patrícia Viera é bastante diversa, e ela veste mulheres muito diferentes, de trans a pretas, de magras a baixas, de indígenas às de mais idade. Temos todos os corpos. A vontade de mostrar-nos todos esses corpos variados surge também da missão da marca de criar uma moda sob medida, facilitando a venda dessas peças.
Quem puxa o final do desfile é Bárbara Fialho, ao som de “Relight My Fire”, de Dan Hartman, apropriado, já que a verdade é que nunca saímos tanto. Nosso fogo nunca esteve tão aceso! São tantos eventos e tantos lugares para estar, no pós-pandemia há tanto para se fazer! Até avatares próprios algumas influenciadoras possuem para conseguir dar conta de todos os compromissos. Patrícia Viera desenha para a mulher com sede de sair, sede de brilho e sede de estar muito bem vestida! Não estranha à moda festa, Patrícia e sua filha abraçaram com força o ritmo frenético dos Dancin’ Days, mas de forma pouco óbvia, com muita tecnologia e inclusão, ajudando a manter esse fogo aceso e queimando!
Assista ao desfile!