Conexão ancestral
Gabriela Hearst apresenta nova coleção dando continuidade à conversa necessária sobre sustentabilidade.
Em sua última coleção resort 2024, inspirada pelos Druidas — antigos líderes religiosos celtas que viviam em harmonia com a natureza entendendo o benefício dessa relação para todos os humanos — a estilista uruguaiana Gabriela Hearst avança a conversa sobre sustentabilidade, dessa vez focando em sua marca própria. O recente anúncio de sua saída da Chloé, para a qual contribuiu com iniciativas sustentáveis, tomou todos de surpresa. Hearst já aplicava tais práticas em sua marca própria, homônima, lançada em 2015. Seus pilares sempre foram longo prazo e sustentabilidade, refletindo os valores de um ritmo mais lento de produção e de processos, “onde a tradição influencia mais do que a tendência”, de acordo com seu site.
Gabriela Hearst (Foto: Michael Avedon)
No entanto, o passado de Hearst é no setor pecuário, onde sua família possui um rancho de 17 mil acres, e ela cresceu com gado e aprendeu a andar a cavalo até mesmo antes de andar de bicicleta. Morando a duas horas e meia da cidade mais próxima, sua família sempre acreditou nos valores de produtos duradouros, onde a importância reside na durabilidade e na versatilidade dos produtos e não na próxima tendência. Ela leva esses valores para sua marca e para sua vida pessoal.
Hoje, Hearst é tida como uma campeã da sustentabilidade na moda de luxo. Sua estreia no calendário francês da moda, na coleção de primavera-verão 2020, foi o primeiro desfile sem pegada de carbono, ou seja, cuja emissão de carbono nos processos da apresentação chegou a zero. Em 2016, lançou uma linha de bolsas em edição limitada, com produção somente sob demanda. No ano seguinte apresentou seu primeiro desfile utilizando estoque morto em 30% dos tecidos. Até mesmo na abertura de sua flagship store em Nova York, a estilista apostou em técnicas conscientes, eliminando uso de sintéticos ou químicos, utilizando apenas carvalho natural e sem tratamento, sensores de movimento ao longo da loja para reduzir gasto de energia elétrica e um bebedouro para eliminar o uso de garrafas plásticas. Além disso, 90% dos materiais gerados durante sua construção foram reciclados.
Hearst em seu rancho no Uruguai. (Foto: Divulgação)
Mas ela não parou por aí: em fevereiro de 2020 a uruguaiana anunciou a parceria com EON, uma plataforma de identidade de moda e vestuário, que visa facilitar a busca de informações de uma determinada peça através de um QR code, conferindo assim mais transparência para o item. Quando questionada sobre a possibilidade de um couro “vegano” pelo The Guardian, ela rebate: “Enquanto estivermos comendo carne, o couro será um produto disso”. Hoje Gabriela busca entender como e aonde chegamos. Sua coleção de resort mais recente suscita questões interessantes acerca de nosso passado enquanto sociedade, buscando respostas no livro Os Druidas, de Peter Berresford Ellis, que debruça sobre os romanos e sua relação privada com suas terras, enquanto os Druidas sempre consideraram a coletividade de suas relações, fossem com suas terras, seus animais, ou seus semelhantes. Uma conversa necessária.