Abandonei o Instagram por um mês. O que aconteceu?
Depois de um mês fora do Instagram, eu volto, mas diferente, com novas percepções. Quais foram elas?
Depois de mais de dois anos criando conteúdo para o Instagram, eu cansei. Cansei de pensar no próximo reels, no próximo vídeo, em como engajar numa plataforma que está em constante mudança, cujo algoritmo está sempre sendo atualizado e eu, na posição de criador de conteúdo de inglês, havia sempre que pensar na melhor forma de trazer este conteúdo aos meus seguidores, e, ao mesmo tempo, atingir novos seguidores em potencial. É exaustivo. Estar sempre pensando em números, em entrega, em edição de vídeo, na sua própria aparência para estar bem na câmera. Eu só queria um tempo. Eu me dei este tempo.
Com o distanciamento vemos as coisas com mais clareza. Agora com uma visão completamente diferente da plataforma, eu percebi que me enganava achando que eu era somente criador de conteúdo, mas muito pelo contrário. Eu era, principalmente, um ávido consumidor de conteúdo. Mesmo com estratégias implementadas desde 2020, quando assisti ao filme O Dilema das Redes na Netflix e decidi passar menos tempo em redes sociais, habilitando até mesmo a função de limite de tela nativa ao iPhone. No fim, nada estava me fazendo usar menos as redes sociais. Eu seguia com a desculpa de estar usando para criar conteúdo, mesmo quando parei de produzir conteúdo diariamente.
O que eu postava? Uma pergunta mais fácil seria: o que eu não postava. Aos poucos decidi mostrar os aspectos da minha vida que mais me satisfaziam: meu trabalho, minha alimentação, meus amigos, meus rolês, minhas viagens, e meus hobbies. Em resumo, tudo. Com a excelente desculpa de estar postando (quase!) tudo com legendas em inglês, para os meus seguidores voltados ao ensino, ou ainda aos meus amigos gringos, que não entenderiam a legenda em português. No fim, eu estava postando para suprir uma necessidade egoísta minha que não estava me levando a absolutamente nada. Eu não estava angariando mais alunos, eu não estava investindo tempo em fazer meu negócio crescer, eu não estava me dedicando a nada em específico. Apenas postando.
Decidi parar. Não parei complemente, ainda deixei algumas notificações de mensagens caso alguém me contatasse por lá. Não deletei o app. Acredito ter auto controle o bastante para não precisar chegar ao ponto de simplesmente apagar o app. Ainda mais que ele poderia vir a ser útil em alguma situação, como conhecer um novo negócio, uma nova pessoa ou ainda receber mensagens de novos alunos em potencial. No fim, nenhuma dessas coisas aconteceu. Mas o app estava lá, com seus cinco minutos de tempo limite de uso diário para eu poder usar. Cinco minutos no Instagram parece pouco? Comigo, passou a ser muito!
Minhas primeiras percepções? Quanto tempo livre eu ganhei no meu dia! Eu estava sempre sem tempo. A cada 15 min que eu tinha eles eram preenchidos com Instagram. A cada viagem de elevador o que eu abria? Instagram. A cada viagem de metrô? Ônibus? Trem? Instagram. A cada dois minutos de intervalo em qualquer atividade? Instagram. Academia? Instagram? Acordei? Instagram. Indo dormir? Instagram. Isso não é um vício? Troque as vezes que eu falei Instagram por “cigarro”. Fica pior, não?
E o que fazer com tanto tempo livre que eu descobri ter? Melhor ainda, o que não fazer? Minha única regra era: sem redes sociais. No mais, eu podia tudo. Fiz chá, arrumei o armário, fui caminhar, passei no sebo, comprei um livro, passei no brechó, comprei uma camiseta, organizei minha agenda, liguei para o meu pai… sabe aquelas atividades que estamos o tempo todo querendo fazer e nunca temos tempo? Eu tinha tempo, afinal. E eu as estava fazendo! Aproveitei este tempo para colocar as leituras em dia, tanto de revistas quanto de livros. Estava há meses arrastando a leitura de um livro. O terminei em algumas horas. Comecei outro maior, terminei em duas semanas. Comecei outro, terminei ontem. Revistas? Matei a leitura de quase todas que estavam pendentes. Com isso, descobri novos autores, novos livros para ler, novos músicos e novas músicas para ouvir, novos podcasts para desbravar. O mundo pareceu se abrir pra mim novamente. Retomei hábitos há muito adormecidos. E que alegria foi!
Ao finalmente estar realizando tantas coisas que eu estava prorrogando há tanto tempo (uma delas, inclusive, era postar mais dos meus textos e pensamentos como este que você está lendo!), veio uma segunda percepção. Eu adoro tirar fotos de tudo que me impacta visualmente. Muito do que fotografo, com o celular mesmo, acabava parando no Instagram. E eu comecei a me questionar: eu realmente gosto de tirar fotos ou eu só estou tirando fotos para postar? Para mostrar algo? Um lugar, um novo corte de cabelo, um novo look, uma nova aquisição?
O Instagram era a minha droga de escolha. As redes sociais tomaram conta de nossas vidas e nós nem percebemos. Eu fui de ler 30 livros em um ano a me arrastar para ler apenas um, no máximo dois. A minha desculpa era: eu uso Instagram como fonte de informação. Sites de notícia já existem há, pelo menos, duas décadas. A segunda questão é: eu preciso estar informado? Eu preciso saber tudo que está acontecendo com as mais de mil pessoas que eu sigo? A tragédia do submarino implodido surgiu neste meu período offline. Fui saber através de amigos. Qual a necessidade dessa informação para eu viver a minha vida?
Há informações necessárias, sim. Os casos de febre maculosa aumentaram e eu estava indo para uma região de risco. Um amigo me alertou e me ensinou como lidar com os carrapatos. Eu aprendi, me protegi, e nada aconteceu. A mídia tende a aumentar tudo por conta do acesso que isso gera, aumentando o medo na população. Eu precisava saber mais do que o estritamente necessário para não ser infectado? Não. E eu parei por aí.
As redes sociais também nos bombardeiam de coisas que nos fazem mal, histórias ruins, pessoas que mentem para seu público para ganhar notoriedade, imagens constantes no nosso cérebro que não tem a capacidade necessária para computar imagens na velocidade que o alimentamos com estas imagens. Aliás, o quanto de todas essas informações, na enorme maioria das vezes, será realmente útil?
No fim, o que eu senti foi alívio. Vontade de voltar? Não. Ainda estou acessando o Instagram e reaprendendo a mexer na plataforma de acordo com os meus novos limites. Há, sim, muita informação boa em redes sociais, mas ela acaba sendo diluída em meio a banalidades. Há, sim, muitas lições a serem aprendidas e muitas coisas a serem ensinadas nas redes sociais. Estamos aprendendo? Estamos ensinando? Estamos apenas gastando nosso bem mais precioso, o tempo? Meus cinco minutos de limite diário se mantém. O cérebro precisa de 30 dias para se adequar a um novo hábito. Já fazem mais, mas, sinceramente? Nunca estive tão bem.